sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Expressão dramática




Ao referirmo-nos à Expressão e Educação Dramática, temos que afirmar que esta área de expressão não se pode confundir com o teatro, na medida em que o jogo dramático não se baseia num texto prévio que embaraça muitas vezes a criança ou nalguns casos a paralisa. O jogo dramático é um exercício da criança para a própria criança e esse mesmo jogo esgota-se ao ser realizado.
Para confirmar o que referi , transcrevo algumas palavras de Marie Dienesch, citada no livro, A Criança e a Expressão Dramática, (1974, p.24): “Partindo de uma acção e não de um texto, a criança não corre o risco de cair nesta confusão fundamental: as palavras já não tomam para ela o lugar da acção, pois esta é apreendida antes da utilização de qualquer forma verbal. Além disso, levada a criar o seu próprio texto, quando se chega ao momento em que as palavras satisfazem uma necessidade interior, e só então, ela experimenta a verdadeira natureza da linguagem dramática, em que tudo o que possa ser indicado por um meio diferente da palavra não deve ser dito, e em que a palavra assume o seu valor insubstituível e soberano a fim de ser o ponto final de uma evolução interior, já contida na vida física do autor.”
Actualmente, o jogo dramático foi banido de algumas escolas, onde a festa de fim de ano é substituída por um passeio, por uma exposição de trabalhos dos alunos. No entanto, este tem que tomar o seu verdadeiro lugar na educação da criança.
A dramatização livre e espontânea dos contos de fadas e dos contos tradicionais desenvolvem na criança a criatividade e tornam-na mais comunicativa desenvolvendo, assim, a sua socialização. É, através do imaginário, do maravilhoso que a criança cresce afectivamente, ultrapassando, muitas vezes traumatismos que uma educação repressiva ajudou a criar.
 Freud afirmava que os processos de transformação do trabalho subjacente ao conto, são análogos aos do trabalho do sonho: dramatização, deslocamento, dissociação e representação por símbolos.
Também Carl Jung referia que os contos são um material discreto para as projecções necessárias a uma individualização correcta. Igualmente Gaston Bachelard considerou o maravilhoso como a matéria prima da imaginação: “é como a grelha mais rigorosa para a análise do real ao aperceber-se que a razão científica recorta as sua verdades na ordem dos sonhos e da consciência poética.”
O conto é um espaço de mediação entre o consciente e o inconsciente, entre o eu e o mundo.
A afirmação de L. Pereira é igualmente elucidativa: “o conto maravilhoso... respeita a interacção entre o homem e o cósmico para a formação de imagens, tendo em conta a homologia do psíquico, do cósmico, do social e do biológico, organizadas numa significação integrada. O conto ajuda o docente a encontrar o núcleo gerador da interdisciplinariedade. A sua compreensão leva-o à descoberta dos segredos da pedagogia: à motivação do espaço interdisciplinar.”
“O conto é um universalismo que denota a persistência de qualquer coisa de primordial, de irrefreado e de comum à totalidade dos homens.” (José Gomes Ferreira). Muito antes, já Teófilo Braga fazia a apologia do conto, no entanto as pretensões pedagógicas desnaturaram-no e ele perdeu a sua poesia espontânea, a sua singeleza popular e a sua beleza tradicional. A função ancestral do conto é por o vulgo a sonhar. A civilização destruiu muita dessa função.
A mensagem do conto de fadas é determinante na educação das crianças, mas também dos jovens. Essa mensagem, porventura a mais importante, é a de que a luta contra as dificuldades da vida é inevitável, mas se o homem se empenhar, com coragem e determinação, acabará por sair vencedor de todos os obstáculos. Desta maneira a mensagem não é moral, mas somente a de encarar a vida com confiança, com possibilidade de vencer de vencer as dificuldades que a todos se colocam. “A nossa herança cultural encontra expressão nos contos de fadas e através deles é comunicado às crianças.” (Bruno Betteheim).


1 comentário:

  1. Olá amiga! Aqui vai o meu comentário:
    A expressão Dramática tem sido tratada como secundária na formação da criança ou apenas como momentos de diversão. No entanto na prática contribui para a expressão da personalidade, para a construção do pensamento e para a formação do carácter. Desenvolve o domínio das capacidades corporais , a sensibilidade, a imaginação e o sentido estético das crianças. A expressão dramática é um dos meios mais completos de educação abrangendo quase todos os aspectos importantes de desenvolvimento da criança. Através da expressão dramática a criança expressa livremente todos os seus sentimentos, desejos e tensões interiores .

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