Ao referirmo-nos à Expressão e Educação Dramática, temos que afirmar que
esta área de expressão não se pode confundir com o teatro, na medida em que o
jogo dramático não se baseia num texto prévio que embaraça muitas vezes a
criança ou nalguns casos a paralisa. O jogo dramático é um exercício da criança
para a própria criança e esse mesmo jogo esgota-se ao ser realizado.
Para confirmar o que referi , transcrevo algumas palavras de Marie
Dienesch, citada no livro, A Criança e a Expressão Dramática, (1974, p.24):
“Partindo de uma acção e não de um texto, a criança não corre o risco de cair nesta
confusão fundamental: as palavras já não tomam para ela o lugar da acção, pois
esta é apreendida antes da utilização de qualquer forma verbal. Além disso,
levada a criar o seu próprio texto, quando se chega ao momento em que as
palavras satisfazem uma necessidade interior, e só então, ela experimenta a
verdadeira natureza da linguagem dramática, em que tudo o que possa ser
indicado por um meio diferente da palavra não deve ser dito, e em que a palavra
assume o seu valor insubstituível e soberano a fim de ser o ponto final de uma
evolução interior, já contida na vida física do autor.”
Actualmente, o jogo dramático foi banido de algumas escolas, onde a festa
de fim de ano é substituída por um passeio, por uma exposição de trabalhos dos
alunos. No entanto, este tem que tomar o seu verdadeiro lugar na educação da
criança.
A dramatização livre e espontânea dos contos de fadas e dos contos
tradicionais desenvolvem na criança a criatividade e tornam-na mais
comunicativa desenvolvendo, assim, a sua socialização. É, através do
imaginário, do maravilhoso que a criança cresce afectivamente, ultrapassando,
muitas vezes traumatismos que uma educação repressiva ajudou a criar.
Freud afirmava que os processos de
transformação do trabalho subjacente ao conto, são análogos aos do trabalho do
sonho: dramatização, deslocamento, dissociação e representação por símbolos.
Também Carl Jung referia que os contos são um material discreto para as
projecções necessárias a uma individualização correcta. Igualmente Gaston
Bachelard considerou o maravilhoso como a matéria prima da imaginação: “é como
a grelha mais rigorosa para a análise do real ao aperceber-se que a razão
científica recorta as sua verdades na ordem dos sonhos e da consciência
poética.”
O conto é um espaço de mediação entre o consciente e o inconsciente,
entre o eu e o mundo.
A afirmação de L. Pereira é igualmente elucidativa: “o conto
maravilhoso... respeita a interacção entre o homem e o cósmico para a formação
de imagens, tendo em conta a homologia do psíquico, do cósmico, do social e do
biológico, organizadas numa significação integrada. O conto ajuda o docente a
encontrar o núcleo gerador da interdisciplinariedade. A sua compreensão leva-o
à descoberta dos segredos da pedagogia: à motivação do espaço interdisciplinar.”
“O conto é um universalismo que denota a persistência de qualquer coisa
de primordial, de irrefreado e de comum à totalidade dos homens.” (José Gomes
Ferreira). Muito antes, já Teófilo Braga fazia a apologia do conto, no entanto
as pretensões pedagógicas desnaturaram-no e ele perdeu a sua poesia espontânea,
a sua singeleza popular e a sua beleza tradicional. A função ancestral do conto
é por o vulgo a sonhar. A civilização destruiu muita dessa função.
A mensagem do conto de fadas é determinante na educação das crianças, mas
também dos jovens. Essa mensagem, porventura a mais importante, é a de que a
luta contra as dificuldades da vida é inevitável, mas se o homem se empenhar,
com coragem e determinação, acabará por sair vencedor de todos os obstáculos. Desta
maneira a mensagem não é moral, mas somente a de encarar a vida com confiança,
com possibilidade de vencer de vencer as dificuldades que a todos se colocam.
“A nossa herança cultural encontra expressão nos contos de fadas e através
deles é comunicado às crianças.” (Bruno Betteheim).
Olá amiga! Aqui vai o meu comentário:
ResponderEliminarA expressão Dramática tem sido tratada como secundária na formação da criança ou apenas como momentos de diversão. No entanto na prática contribui para a expressão da personalidade, para a construção do pensamento e para a formação do carácter. Desenvolve o domínio das capacidades corporais , a sensibilidade, a imaginação e o sentido estético das crianças. A expressão dramática é um dos meios mais completos de educação abrangendo quase todos os aspectos importantes de desenvolvimento da criança. Através da expressão dramática a criança expressa livremente todos os seus sentimentos, desejos e tensões interiores .