” A educação é um acto de amor, por isso, um
acto de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode
fugir a discussão criadores, sob pena de ser uma farsa. Como aprender a
discutir e a debater com uma educação que se impõe?”
Paulo Freire (Educação como prática da liberdade)
(Forma
de informar são duas autonomias diferentes)
“A educação tem como finalidade desenvolver
no indivíduo toda a perfeição de que este é capaz.”
E. Kant
(atitude
preceptora/empreendedora)
“A educação tem sobretudo como objectivo
desenvolver a capacidade para as transformações e a adaptação a situações
novas.”
Gaston Mialaret
(criatividade,
altitude que os alunos têm perante algumas situações)
O aluno deve ser receptor, mas também ser
algo mais do que isso, pode ser ideias. Sócrates deixava os seus alunos falar e
só depois é que falava e comentava.
Ao referirmo-nos à Expressão e Educação Dramática, temos que afirmar que
esta área de expressão não se pode confundir com o teatro, na medida em que o
jogo dramático não se baseia num texto prévio que embaraça muitas vezes a
criança ou nalguns casos a paralisa. O jogo dramático é um exercício da criança
para a própria criança e esse mesmo jogo esgota-se ao ser realizado.
Para confirmar o que referi , transcrevo algumas palavras de Marie
Dienesch, citada no livro, A Criança e a Expressão Dramática, (1974, p.24):
“Partindo de uma acção e não de um texto, a criança não corre o risco de cair nesta
confusão fundamental: as palavras já não tomam para ela o lugar da acção, pois
esta é apreendida antes da utilização de qualquer forma verbal. Além disso,
levada a criar o seu próprio texto, quando se chega ao momento em que as
palavras satisfazem uma necessidade interior, e só então, ela experimenta a
verdadeira natureza da linguagem dramática, em que tudo o que possa ser
indicado por um meio diferente da palavra não deve ser dito, e em que a palavra
assume o seu valor insubstituível e soberano a fim de ser o ponto final de uma
evolução interior, já contida na vida física do autor.”
Actualmente, o jogo dramático foi banido de algumas escolas, onde a festa
de fim de ano é substituída por um passeio, por uma exposição de trabalhos dos
alunos. No entanto, este tem que tomar o seu verdadeiro lugar na educação da
criança.
A dramatização livre e espontânea dos contos de fadas e dos contos
tradicionais desenvolvem na criança a criatividade e tornam-na mais
comunicativa desenvolvendo, assim, a sua socialização. É, através do
imaginário, do maravilhoso que a criança cresce afectivamente, ultrapassando,
muitas vezes traumatismos que uma educação repressiva ajudou a criar.
Freud afirmava que os processos de
transformação do trabalho subjacente ao conto, são análogos aos do trabalho do
sonho: dramatização, deslocamento, dissociação e representação por símbolos.
Também Carl Jung referia que os contos são um material discreto para as
projecções necessárias a uma individualização correcta. Igualmente Gaston
Bachelard considerou o maravilhoso como a matéria prima da imaginação: “é como
a grelha mais rigorosa para a análise do real ao aperceber-se que a razão
científica recorta as sua verdades na ordem dos sonhos e da consciência
poética.”
O conto é um espaço de mediação entre o consciente e o inconsciente,
entre o eu e o mundo.
A afirmação de L. Pereira é igualmente elucidativa: “o conto
maravilhoso... respeita a interacção entre o homem e o cósmico para a formação
de imagens, tendo em conta a homologia do psíquico, do cósmico, do social e do
biológico, organizadas numa significação integrada. O conto ajuda o docente a
encontrar o núcleo gerador da interdisciplinariedade. A sua compreensão leva-o
à descoberta dos segredos da pedagogia: à motivação do espaço interdisciplinar.”
“O conto é um universalismo que denota a persistência de qualquer coisa
de primordial, de irrefreado e de comum à totalidade dos homens.” (José Gomes
Ferreira). Muito antes, já Teófilo Braga fazia a apologia do conto, no entanto
as pretensões pedagógicas desnaturaram-no e ele perdeu a sua poesia espontânea,
a sua singeleza popular e a sua beleza tradicional. A função ancestral do conto
é por o vulgo a sonhar. A civilização destruiu muita dessa função.
A mensagem do conto de fadas é determinante na educação das crianças, mas
também dos jovens. Essa mensagem, porventura a mais importante, é a de que a
luta contra as dificuldades da vida é inevitável, mas se o homem se empenhar,
com coragem e determinação, acabará por sair vencedor de todos os obstáculos. Desta
maneira a mensagem não é moral, mas somente a de encarar a vida com confiança,
com possibilidade de vencer de vencer as dificuldades que a todos se colocam.
“A nossa herança cultural encontra expressão nos contos de fadas e através
deles é comunicado às crianças.” (Bruno Betteheim).
O gosto pela música é natural nas crianças. Elas gostam de cantar e de ouvir música, como gostam de ouvir o ruído da água que corre da nascente ou o canto de uma ave. A música é uma linguagem universal, completa, porque puramente intuitiva, e talvez o modo de expressão por excelência da expontaneidade. I. Stravinsky afirmava: “Considero a música, pela sua essência, impotente para exprimir o que quer que seja: um sentimento, uma atitude, um estado psicológico, um fenómeno natural.” “Expressão de coisa nenhuma, sem dúvida, se não de uma emoção estética que é tudo, e que o criador transmite e partilha com o auditor. Que a mensagem seja desprovida de conteúdo preciso, o que conta é a transmissão de uma experiência vivida, de uma realidade inefável, a comunhão espiritual que daí resulta e o florescimento pessoal que ela favorece.” (Gloton & Clero, 1976, p.177).
De acordo com a opinião dos autores, acima referidos, o que realmente é importante é que a música transmite “uma experiência vivida, uma realidade inefável, a comunhão espiritual que daí resulta e o florescimento pessoal que ela favorece”.
Não é possível ignorar a importância da música na formação do homem, porque ela faz parte da essência do ser humano. Goethe escreveu: “quem não ama a música, não merece o nome de homem, quem gosta dela é metade de homem, quem a pratica é um homem completo...” . Apesar de considerar que há algum exagero nas afirmações de Goethe, as suas palavras mostram claramente a importância que a música tinha para ele. O que se pode afirmar é que o homem, através da música, pode exprimir os seus sentimentos e libertar muitas vezes emoções que o oprimem adquirindo uma estabilidade que é importante para a afirmação da sua própria identidade, na sociedade em que está inserido.
A educação musical deve começar na família e tem que ter continuidade no jardim de infância, no 1.º ciclo e nos restantes ciclos. A escola deve ensinar as crianças a cantarem bem, a amarem o canto e dar-lhes a possibilidade de distinguirem a boa música da má. A música é como uma segunda língua que permite exprimir os sentimentos, na medida em que há canções tristes e alegres.
O poder educativo da música traduz-se pelo apuramento do gosto musical, o que implica uma afinação rigorosa, uma boa pronúncia e um ritmo certo. No entanto a criança para interiorizar estes conhecimentos deve ter no seu professor um modelo a imitar e para que isso aconteça ele deve ter os conhecimentos necessários, na área da Expressão e Educação Musical.
O Jardim de Infância é um momento e um tempo de socialização para a criança, que se diferencia daqueles que ela viveu até essa altura por acontecer num espaço novo, com muitas pessoas novas e longe das figuras parentais e/ou outras significativas.
Por este motivo, é importante que este momento decorra com a maior serenidade e afecto possíveis, mas também sem hesitações, para que a criança sinta esta nova etapa como uma situação segura e acolhedora – um caminho por onde se pode aventurar sem receio.
Se a mãe e o pai estão felizes por eu estar aqui é porque este é um sítio bom para eu estar. É claro que eu vou estrebuchar quando eles disserem que vão trabalhar e que mais logo voltam para me buscar. Eu gosto deles e quero que eles fiquem aqui enquanto eu brinco. Era bom eu poder explorar todo este mundo novo e eles aqui maravilhados a olhar para mim; e mais importante que isso, sempre a jeito para um abraçinho de apoio ou de protecção.
Mas chega um momento em que as crianças percebem que o mundo é algo mais que uma mera continuidade de si próprios e, nesta linha de ideias, têm de aprender que aquelas duas pessoas, para além de serem os pais que o adoram, são também duas pessoas com outras coisas suas para ser e fazer. Assim sendo…
Quando eu perceber que os meus pais, voltam sempre para me vir buscar, eu aprenderei que posso brincar e divertir-me descansado enquanto eles aqui não estão. Porque eles adoram sempre ver-me de novo. Porque me beijam e me abraçam. E, desta forma, eu estou a crescer certo do seu amor.
2. ÁREA DE
EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO que inclui vários domínios:Domínio da Expressão
Motora; Domínio da Expressão Dramática;
Domínio da Expressão Plástica; Domínio da Expressão Musical; Domínio da
Linguagem e abordagem à Escrita; Domínio da matemática
3. Área do Conhecimento do Mundo
1.
Área de Formação Pessoal e Social
“A Formação Pessoal e
Social é considerada uma área transversal, dado que todas as componentes
curriculares deverão contribuir para promover nos alunos atitudes e valores que
lhes permitam tornarem-se cidadãos conscientes e solidários, capacitando-os
para a resolução dos problemas da vida. Também a educação pré-escolar deve
favorecer a formação da criança, tendo em vista a sua plena inserção na
sociedade como ser autónomo, livre e solidário”.
2.
Área de Expressão e Comunicação
Esta área engloba
as aprendizagens relacionadas com o desenvolvimento psicomotor e simbólico que
determinam a compreensão e o progressivo domínio de diferentes
formas de linguagem
Favorece
o contacto com as várias formas de expressão e comunicação, proporcionando o
prazer de realizar novas experiências, valorizando as descobertas das crianças.
Esta área integra as aprendizagens relacionadas com o desenvolvimento
psicomotor e simbólico que por sua vez permitirão à criança apropriar-se das
diferentes formas de linguagem. Engloba o domínio das expressões motora,
dramática, plástica e musical, o domínio da linguagem oral e abordagem à
escrita e o domínio da matemática.
Expressão
Motora
“O
corpo que a criança vai progressivamente dominando desde o crescimento e de
cujas potencialidades vai tomando consciência, constitui o instrumento de
relação com o mundo e o fundamenta de todo o processo de desenvolvimento e
aprendizagem.
A
exploração de diferentes formas de movimento permite tomar consciência dos
diferentes segmentos do corpo, das suas possibilidades e limitações,
facilitando a progressiva interiorização do esquema corporal e também a tomada
de consciência do corpo em relação ao exterior – esquerda, direita, em cima, em
baixo, etc. É situando o seu próprio corpo que a criança aprende as relações no
espaço relacionadas com a matemática”.
Expressão
Dramática
“…é um meio de descoberta de si e do outro, de afirmação de si próprio em
relação com o(s) outro(s) que corresponde a uma forma de se apropriar de
situações sociais. Na interacção com outra ou outras crianças, em actividades
de jogo simbólico, os diferentes parceiros tomam consciência das suas reacções,
do seu poder sobre a realidade, criando situações de comunicação verbal e não
verbal.
…permitindo às crianças recrear experiências da vida quotidiana,
situações imaginárias, etc.”.
“…é um meio de descoberta de si e
do outro, de afirmação de si próprio em relação com o(s) outro(s) que
corresponde a uma forma de se apropriar de situações sociais. Na interacção com
outra ou outras crianças, em actividades de jogo simbólico, os diferentes
parceiros tomam consciência das suas reacções, do seu poder sobre a realidade,
criando situações de comunicação verbal e não verbal.
…permitindo às crianças recrear experiências da vida quotidiana,
situações imaginárias, etc.”
Expressão
Plástica
“…possibilita à criança
mais uma forma de descoberta e comunicação diferentes de outras.
…constitui uma forma de
linguagem.
A criança através da
expressão plástica exprime o que não pode confiar à expressão verbal”.
“A criança, como artista, Não copia traços
ou formas, tonalidades ou sombras; a criança dá ao que vê a sua interpretação.
Há que deixá-la crescer e afirmar-se para
que se sinta que é ela própria única autora da sua obra…”
“A
criança, como artista, Não copia traços ou formas, tonalidades ou sombras; a
criança dá ao que vê a sua interpretação.
Há que deixá-la crescer e afirmar-se para
que se sinta que é ela própria única autora da sua obra…”
Expressão
Musical
“Assenta num trabalho de
exploração de sons e ritmos, que a criança produz e explora espontaneamente e
que vai aprendendo a identificar e a produzir com base num trabalho sobre os
diversos aspectos que caracterizam os sons: intensidade, altura, timbre,
duração, etc”.
“A música baseia-se no som e o som é algo
que nos rodeia, que nos influencia desde muito cedo”.
“ Cantando, tocando ou quaisquer que sejam as
outras formas que ela utilize, ela está a comunicar, a desenvolver a sua
capacidade criativa, a desenvolver o seu sentido rítmico e auditivo, ela está a
ter prazer”.
Domínio
da Linguagem e abordagem à Escrita
“Não
há hoje em dia crianças que não contactem com o código escrito e que por isso,
ao entrar para a Educação pré-escolar não tenha já algumas ideias sobre a
escrita.
Pretende-se
acentuar a importância de tirar partido do que a criança já sabe,
permitindo-lhe contactar com as diferentes funções do código escrito. Não se
trata de uma introdução formal e clássica à leitura e escrita, mas de facilitar
a emergência da linguagem escrita”.
“Se o Jardim quer favorecer a expressão da
criança com base na comunicação: É cada criança que o educador terá de
conhecer. O seu falar individual. O falar da comunidade a que ela pertence”.
Domínio
da Matemática
“É
a partir da consciência da sua posição e deslocação no espaço, bem como da
relação e manipulação de objectos que ocupam e espaço, que a criança pode
aprender o que está longe e perto, dentro, fora e entre, aberto e fechado, em
cima e em baixo… permite-lhe ainda reconhecer e representar diferentes formas…
começa a encontrar princípios lógicos que lhe permite classificar objectos,
coisas e acontecimentos. Todos estes jogos são um recurso para a criança se
relacionar com o espaço e que poderão fundamentar aprendizagens matemáticas”.
3.
Área do Conhecimento do Mundo
“Os
seres humanos desenvolvem-se e aprendem em interacção com o mundo que os
rodeia.
A
curiosidade natural das crianças e o seu desejo de saber é a manifestação da
busca de compreender e dar sentido ao mundo que é próprio do ser humano e que
origina as formas mais elaboradas do pensamento, o desenvolvimento das
ciências, das técnicas e também das artes”.
“O
tratamento desta área não visa promover um saber enciclopédico, mas
proporcionar aprendizagens pertinentes com significado para as crianças que
podem não estar obrigatoriamente relacionadas com a experiência imediata. Mesmo que a criança não domine
inteiramente os conteúdos, a introdução a diferentes domínios científicos cria
uma sensibilização que desperta a curiosidade e o desejo de aprender.
O que parece essencial neste domínio,
quaisquer que sejam os assuntos abordados e o seu desenvolvimento são os
aspectos que se relacionam com os processos de aprender: a capacidade de
observar, o desejo de experimentar, a curiosidade de saber, a atitude crítica.”
Ministério da Educação, Orientações
curriculares para a Educação Pré-escolar.
M.E,
Perspectivas de educação em Jardins de Infância